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A mobilidade internacional – tomada como sinônimo de migração – tem sido tema de
diversas áreas das ciências, em especial da Antropologia e da Administração que têm
também no trabalho um tema de interesse comum. Dos estudos que promoveram a
associação mobilidade internacional e trabalho, observa-se a proliferação de termos –
relativos aos indivíduos que atravessam fronteiras geográficas, que a endereçam ora a uma,
ora a outra área específica do conhecimento. Nesse sentido, o presente ensaio visa (i)
discutir acerca dos principais conceitos e termos relativos à associação mobilidade
internacional e trabalho, presentes na Administração e na Antropologia; (ii) argumentar a
favor do incremento do diálogo entre as áreas em prol do enriquecimento teórico-empírico
relativo ao tema. Para tanto, procedeu-se a uma revisão de literatura relativa a cada uma
das áreas. Apesar de aparente disparidade entre as áreas, e mesmo que a questão do
trabalho de quem se move internacionalmente seja por elas analisada a partir de diferentes
recortes, certo diálogo vem sendo construído. Na Administração, o foco tende a ser
direcionado para indivíduos de altos níveis hierárquicos – profissionais qualificados que se
movimentam por motivo de trabalho em multinacionais (FREITAS, 2008; CHANLAT; DAVEL;
DUPUIS, 2013). Na Antropologia, o mote se encontra em indivíduos que cruzam fronteiras
em situação de vulnerabilidade, em busca de uma vida melhor, de um emprego, por motivos
alheios a sua vontade, como desastres ambientais e guerras (SAYAD, 1979; RUIZ, 2003). O
empréstimo de conceitos da Antropologia pela Administração ocorre, entretanto,
inevitavelmente, quando se pensa em indivíduos em contextos interculturais nas
organizações, isto é, indivíduos que vivenciaram a mobilidade para um país estrangeiro e,
então, trabalham com nativos e não nativos (FREITAS, 2008). Há de se considerar, contudo,
que usos/desusos/abusos relativos à expansão de termos poderão constranger o diálogo.
Expatriado, autoexpatriado, flexpatriado, impatriado, executivos e gestores globais, na
Administração; imigrante, diáspora, transnacional e refugiado, na Antropologia. Guardadas
as distintas motivações de deslocamento, ainda é raramente discutido que a diversidade de
termos estudados em ambas as áreas deriva do vocábulo migração. Migrar consiste em se
deslocar a outro país por tempo indeterminado ou definitivo. Quem sai do seu país, emigra,
quem entra em um país estrangeiro, imigra. Nessa perspectiva, sugere-se: todos são
migrantes. Na Administração, o termo imigrante ou emigrante raramente é mencionado, a
não ser em literatura específica sobre empreendedorismo étnico, que cai na conotação
popular de indivíduos que se mudam em busca de uma vida melhor e montam seu negócio
no país de destino. Na Antropologia, o termo expatriado tampouco é utilizado, salvo em
obras como a de Ribeiro (s.d.). Mas ambas as áreas se referem a um mesmo fenômeno. O
trabalho também merece diferentes considerações nas duas áreas. Na Administração, são
abundantes estudos que apresentam viés funcionalista, com o objetivo de estudar e otimizar
o processo de transferência internacional e, consequentemente, aprimorar o desempenho
organizacional (GALLON; FRAGA; ANTUNES, 2017), sendo a organização considerada o
cerne, mesmo que apareça apenas como pano de fundo. Sob outra perspectiva, há parcas
iniciativas relativas a uma visão mais crítica. Na Antropologia, a discussão – mais centrada
no indivíduo e no grupo – tem no trabalho apenas mais uma das inúmeras facetas a serem
analisadas. O trabalho precarizado, com frequência, é tomado como o tipo de oportunidade
que se apresenta a esses indivíduos (MARINUCCI, 2017). Considera-se o trabalho,
entretanto, um elemento comum e central às diferentes formas de migração, visto que dele
poderá derivar o sustento dos indivíduos no país de destino. A partir das ideias que
predominam na Administração e Antropologia, ponderou-se que, para o mesmo tema –
mobilidade internacional ou migração e trabalho – cada área de conhecimento faz um
recorte específico relativo aos indivíduos e aos termos a eles atribuídos. Tal recorte pode
promover, em ambas as áreas, classificações reducionistas da pluralidade da vida dos
indivíduos. Forjar novos termos visando abranger a totalidade de situações que motivam a
mobilidade internacional, poderá mostrar-se tarefa inócua ao avanço do conhecimento,
tendo em vista a velocidade com que mudam as relações entre países, as motivações e
possibilidades de deslocamento mundial, as configurações de trabalho. Argumenta-se a
favor de um diálogo que considere a proliferação de termos, sob pena de os mesmos
inclinarem-se mais à produção de nichos de conhecimento tomados como exclusivos de
uma ou outra área de conhecimento, do que ao enriquecimento teórico-empírico.
Argumenta-se, ainda, que a aproximação dos termos na direção de migração, poderia vir a
ilustrar a dimensão diversa de vida e trabalho destes indivíduos. O ponto em comum aos
termos apresentados por ambas as áreas no que se refere aos indivíduos que atravessam
fronteiras, ainda parece ser migração, e ao redor dele o diálogo poderá contemplar outros
aspectos relevantes. |
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