Abstract:
O presente artigo utiliza a cartografia como metodologia para investigar como os Centros de
Atenção Psicossocial (CAPS) resistem como dispositivos clínico-políticos de promoção de
saúde em um contexto de sofrimento neoliberal. O trabalho contextualiza o município de onde
parte a pesquisa, bem como um breve histórico da reforma psiquiátrica brasileira e a criação
dos CAPS. Também percorre os impactos das políticas de austeridade sobre a saúde e a
educação, assim como a precarização dos serviços públicos e suas consequências para
trabalhadores e usuários. Destaca-se como os CAPS promovem formas de cuidado coletivo e
territorial que subvertem a lógica neoliberal, caracterizada pela individualização,
responsabilização e medicalização do sofrimento psíquico. Os CAPS valorizam o cuidado
coletivo e territorial, fomentando redes de suporte que reforçam a autonomia, a participação e
o pertencimento social. Os resultados apontam que os efeitos do modelo neoliberal se
refletem nos CAPS de diferentes maneiras, descartando o modo de subjetivação e sofrimento
dos usuários, e principalmente as adversidades frequentemente atribuídas à fragmentação da
Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Ainda assim, esses dispositivos demonstram potencial
transformador ao resistirem à lógica do mercado e promoverem uma prática integrada,
comunitária e contextualizada de saúde mental. Conclui-se que os CAPS não apenas
enfrentam as demandas contemporâneas de saúde mental, mas também representam
alternativas concretas para a construção de um cuidado que valoriza a dignidade humana e
subverte o discurso neoliberal.