Abstract:
Em maio de 2024, o município de Canoas (RS) enfrentou um dos maiores desastres
climáticos de sua história, com aproximadamente 60% de seu território afetado, o que levou à
evacuação imediata de milhares de pessoas. Diante deste cenário, a prefeitura e a sociedade
civil viabilizou o acolhimento para os que necessitaram deixar suas residências. A
mobilização social foi intensa, resultando em uma ampla participação de voluntários nos
resgates e em abrigos emergenciais. Assim, este artigo tem como objetivo compreender os
efeitos da experiência voluntária durante a inundação de maio de 2024 em Canoas, a partir da
perspectiva dos próprios voluntários. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de caráter
exploratório, baseada em entrevistas semiestruturadas com 11 voluntários que atuaram
diretamente nos abrigos emergenciais do município. Os dados foram analisados por meio da
análise de conteúdo temática, considerando as seguintes categorias: descrição do voluntariado
(aspectos objetivos e aspectos subjetivos) emoções, saúde mental, fadiga de compaixão, poder
público e resiliência comunitária. Os resultados indicam que o voluntariado foi fundamental
para o enfrentamento do impacto imediato do desastre, contribuindo para a formação de uma
ampla rede de solidariedade. Além disso, a atuação voluntária proporcionou experiências
subjetivas marcantes de pertencimento, superação e transformação pessoal. Contudo, a
atividade também demonstrou impactos psicológicos importantes como: sofrimento
emocional, exaustão, ambiguidade de sentimentos e sinais de fadiga de compaixão, além da
falta de suporte do poder público. Assim, a necessidade de pensar em estratégias de suporte e
amparo a quem cuida torna-se uma temática urgente considerando o aumento de desastres
climáticos ao redor do mundo.