Abstract:
Cada sociedade, dependendo dos seus determinantes culturais e históricos,
possui um entendimento sobre qual é o papel do ensino e dos públicos diretamente com ele envolvidos. Em geral, a educação é considerada uma maneira
de mudar significativamente e positivamente uma situação pré-existente, desenvolvendo pessoas para tornarem-se agentes de transformação. Na década
de 60, no Brasil, Paulo Freire chamava de “educação bancária” a que era voltada para a oratória e atividades burocráticas, um indicativo, talvez, das intenções
governamentais daquele período já que a escola, assim como a comunicação
social, é um aparelho ideológico que favorece a existência de uma cultura hegemônica. O ensino deve superar a preparação do indivíduo para o mercado de
trabalho, é necessário um processo de conscientização que gere o processo de
questionamentos (SOARES, 1986). A metáfora de Paulo Freire, segundo Citelli
(2000), revela conceitos de acumulação, reprodução e burocratização.Segundo Morin (2010, p. 18) “o conhecimento deve ser permanentemente revisitado e revisado pelo pensamento; o pensamento é, mais do que nunca, o
capital mais precioso para o indivíduo e a sociedade”. Existe obscuridade no
que se destina a esclarecer todas as coisas, há uma crise no conhecimento contemporâneo que está relacionada à crise do século XXI, para Morin (2015, p.
23), o conhecimento “comporta sombras, zonas cegas, buracos negros”.
Esta pesquisa é fragmento da tese de doutorado em que analisamos as reportagens publicadas pela Revista Veja sobre educação no período entre 2003
e 2010. A escolha deste período deu-se porque, ao realizarmos um levantamento prévio de reportagens ao longo de um ano a cada quinquênio desde
1970 (a revista foi lançada em 1968), nele identificamos o ápice de publicações sobre o tema.
Neste artigo realizaremos uma análise documental de, especificamente, seis reportagens que tiveram como foco o ensino em outros países (China, Coréia do
Sul, Estados Unidos, Finlândia e Cingapura). Elas foram publicadas entre 2003
e 2008. Para tal, consideraremos os princípios recursivo, hologramático e dialógico, que, segundo Edgar Morin (2015), no livro O método 3: o conhecimento
do conhecimento, estão inter-relacionados e são fundamentais no paradigma
da complexidade.
Considerando o princípio anel recursivo verificaremos se as reportagens analisadas relacionarão o desenvolvimento destes países à excelência de seu ensino
ao passo que o ensino é resultado do desenvolvimento e da valorização a que
é submetido pela sociedade e pela política em que está inserido. O produto
(o ensino) é produtor do que o produz (o país). Por meio do princípio hologramático verificaremos como o modelo de ensino vigente e a pauta de governo
sobre a educação destes países se sobrepõem, se conjugam, se relacionam e se
separam, um revelando o outro. Por meio deste princípio também poderemos
entender, sendo a educação um processo constituinte da construção de um
cidadão e, por conseguinte, de uma sociedade, quais são as expectativas desta
sociedade e de seus governantes (expressas em discursos e políticas públicas)
sobre o processo educacional. Ao utilizarmos o princípio dialógico, verificaremos contradições relacionadas à imagem da educação, em especial entre os países citados nas reportagens e como elas possuem possibilidades de diálogos, mesmo que possam excluir-se mutuamente. Por meio destes três princípios, identificaremos como estas relações ocorrem no discurso da Revista Veja
publicado no período em questão.