Avaliação da toxicidade do flúor em amostras de água para consumo humano

Abstract

As águas subterrâneas são amplamente utilizadas para abastecimento humano, mas sua qualidade é influenciada por atividades locais, características geológicas e minerais. Cidades como Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires, no Rio Grande do Sul, enfrentam contaminação por flúor, que, em concentrações elevadas, causa fluorose dentária, deformidades esqueléticas e outros problemas de saúde. Essas regiões, destacadas pela produção de tabaco, utilizam poços artesianos, sendo vulneráveis à contaminação por agroquímicos, como o glifosato. A alta incidência de fluorose e o impacto de pesticidas tornam essas áreas adequadas para estudos sobre saúde pública e soluções ambientais. Com base no exposto, o objetivo deste projeto foi avaliar parâmetros físico-químicos, presença do flúor e do glifosato e atoxicidade de amostras de água de poços artesianos de cidades da região do Vale do Rio Pardo, além de desenvolver um filtro ecológico para promover a saúde. Também foi avaliada a eficiência desse processo na redução do flúor e sua capacidade tóxica. Para isso, foram utilizados testes agudos, subcrônicos e crônicos com os organismos-teste Daphnia magna e Desmodesmussubspicatuspara avaliar a toxicidade das águas dos poços antes e após os processos.Foram coletadas 19 amostras de poços artesianos no município de região de Venâncio Aires. Alguns parâmetros físico-químicos, como Demanda Química de Oxigênio (DQO), Nitrato, Sólidos Totais Dissolvidos (STD), apareceram elevados em alguns poços, o que pode ser um indicativo de poluição orgânica na água. A presença de flúor no poço 7 foi de 5,42 mg/L, sendo a maior quantia mensurada nas amostras. A presença de flúor alterada se dá pela formação da região de estudo. Os resultados microbiológicos indicaram presença de coliformes totais, Escherichia coli e bactérias formadoras de colônia em 13 poços, indicando contaminação microbiológica. A contaminação de águas com carga bacteriana elevada, indica contaminação por material fecal, industrial ou dejetos animais.O pesticida glifosato e seu metabólito AMPA não foram quantificados em nenhuma das amostras de água de poço. Esses resultados podem ser explicados devido a persistência, ocorrência e a influência de fatores ambientais sob esses compostos, considerando meias-vidas variadas para glifosato e AMPA. Os elementos inorgânicos detectados através da técnica de PIXE foram Mg, Al, Si, P, S, Cl, K, Ca, Ti, Mn, Fe, Cu e Zn. A presença destes elementos pode ser oriunda da aplicação de pesticidas nas lavouras próximas aos poços, destacando os poços 1, 8 e 12. Os resultados dos testes ecotoxicológicos com Daphnia magna apresentaram Concentração efetiva que afeta 50% dos organismos (CE 50%)em três amostras avaliadas (Poços 1, 9 e 17). Os testes com a alga Desmodesmus subspicatusnão indicou toxicidade nas águas de poço.Quanto ao filtro, os resultados de- monstraram que a farinha de osso comercial apresentou maior eficiência na remoção do ácido fluorossilícico, especialmente em soluções de menor concentração inicial, enquanto o engaço de uva mostrou uma interferência indesejada, aumentando a concentração de flúor na solução, possivelmente devido à lixiviação de seus compostos. Esses achados ressaltam a necessidade de investigações adicionais para otimizar as condições de adsorção e compreender os mecanismos químicos envolvidos na remoção do flúor por esses materiais.