Abstract:
Introdução: Aproximadamente 10% dos pacientes que tiveram alta da Unidade de
Terapia Intensiva (UTI) serão readmitidos durante a mesma internação hospitalar.
A readmissão na UTI tem sido associada a piores desfechos dos pacientes, como
aumento no tempo de internação hospitalar e mortalidade, e aumento de custos.
Identificar pacientes com maior risco de readmissão pode auxiliar no planejamento
da alta, permitindo o seu adiamento até que o paciente tenha uma condição mais
estável ou adequando o nível de cuidado necessário para o paciente fora da UTI. A
carga de trabalho da enfermagem no dia da alta da UTI, possivelmente influenciada
por disfunções orgânicas não resolvidas e/ou maior gravidade do paciente, pode
auxiliar na identificação de pacientes com maior risco para readmissão. Além disso,
o aumento do risco de readmissão entre pacientes que receberam alta da UTI pode
estar relacionado à alguma anormalidade patofisiológica manifestada por
inflamação no momento da alta da UTI. Neste cenário, a razão neutrófilo-linfócito
(RNL), um recente marcador inflamatório, pode auxiliar na identificação de
pacientes com maior risco para readmissão. Objetivos: verificar se há associação
entre o Nursing Activities Score (NAS) no dia da alta da UTI e readmissão à UTI.
Além disso, como análise exploratória, nós pretendemos verificar se há associação
da RNL com o desfecho. Método: Estudo de coorte retrospectivo baseado em
registro prospectivo de todos os pacientes admitidos na UTI do Hospital Ernesto
Dornelles (HED) em Porto Alegre, Brasil, e que receberam alta para a enfermaria
no período de outubro de 2018 a dezembro de 2019. Foram excluídos pacientes
sem registro do NAS ou com definição de limitação de tratamento no momento da
alta da UTI. Resultados: A amostra foi composta por 1045 pacientes. Cento e
oitenta e oito (18,0%) pacientes foram readmitidos à UTI, além de terem ocorrido
duas (0,2%) mortes inesperadas na enfermaria. A mortalidade hospitalar foi 9,4%.
A mediana do NAS foi 59,9 (50,9 - 67,3), sendo maior, em análise bivariada, nos
pacientes com readmissão (64,0; IIQ 55,7 - 71,4) em relação aos pacientes não
readmitidos (58,7; IIQ 49,7 - 66,1) (p < 0,001). Os pacientes com NAS >= 60,0 e <
60,0 apresentaram 23,4% e 12,7% de readmissão, respectivamente (p < 0,001).
Após ajuste multivariável, o NAS na alta da UTI manteve associação com
readmissão, assim como a RNL. Conclusão: A carga de trabalho da enfermagem,
avaliada pelo NAS, no momento da alta da UTI está associada com o risco de
readmissão à UTI.