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INTRODUÇÃO: A fraqueza muscular é uma complicação que acomete de 30 a 60% dos
pacientes críticos, podendo persistir por tempo prolongado após a alta da unidade. Embora a
fraqueza muscular e suas consequências já sejam bastante descritas em pacientes críticos, a
avaliação de massa e função muscular, e não apenas da força, tem despertado maior interesse.
A sarcopenia é o termo que reflete a perda de massa muscular somada à perda de força ou
função, tendo como importantes consequências prejuízo funcional e na qualidade de vida. A
fim de tentar minimizar estas consequências da sarcopenia, o diagnóstico e tratamento precoces
podem ser decisivos. Para o diagnóstico e/ou rastreamento, busca-se idealmente por um método
não-invasivo, prático, de baixo custo e fácil aplicação, que avalie um ou mais componentes da
sarcopenia. Há um número crescente de estudos que utilizaram a circunferência da panturrilha
(CP) como medida de massa muscular. Além disso, alguns estudos mostraram associação de
CP com capacidade funcional em idosos. Esta associação, no entanto, ainda não foi estudada
em pacientes críticos. OBJETIVO: Verificar a acurácia da circunferência da panturrilha em
paciente crítico vítima de trauma na predição de capacidade funcional na alta hospitalar.
METODOLOGIA: Trata-se de um estudo observacional prospectivo desenvolvido no
Hospital de Pronto Socorro de Canoas- Nelson Marchezan (HPSC). A população do estudo foi
composta por pacientes vítimas de trauma que estiveram internados na UTI entre agosto de
2017 e agosto de 2018. A coleta de dados teve início após a aprovação do estudo pelo Comitê
de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade La Salle. Foram coletadas variáveis
sociodemográficas dos pacientes, gravidade do trauma, escore de gravidade da doença crítica,
variáveis relacionadas à internação na UTI e tempo de internação na UTI e no hospital. Foi
realizado a mensuração da circunferência da panturrilha na admissão, no 3° e 7° dias na UTI e
na alta da UTI. No período próximo à alta hospitalar, foi realizado o teste Timed up and Go
(TUG) e aplicado o índice de Barthel. RESULTADOS: A circunferência média da panturrilha
dos pacientes na admissão foi 33,2 ± 3,7 cm. Na alta da UTI, 32,6 ± 3,6 cm. Vinte e seis
(19,4%) pacientes apresentaram redução ≥ 0,5cm na CP entre a admissão e a alta da UTI. Todos
os pacientes apresentavam independência (Barthel = 100) antes da admissão. Na alta hospitalar,
a mediana do Barthel foi 85 (80-90). Dos pacientes que realizaram o TUG, 21 (23,9%)
apresentaram resultado > 10seg. Houve associação entre redução da CP (avaliada pela diferença
da CP entre a alta e a admissão à UTI – CPalta-admissão) e o TUG alterado. A área sob a curva
ROC desta variável foi 0,72. O ponto de corte com melhor acurácia foi -0,1cm
(sensibilidade=81%, especificidade=61,2%). Uma redução da CPalta-admissão ≥0,5cm mostrou
associação independente com alteração do TUG em um modelo ajustado para idade, sexo,
vasopressor e sepse. CONCLUSÃO: A redução da CP na alta da UTI em relação à medida da
admissão demonstrou associação independente com capacidade funcional de pacientes críticos
vítimas de trauma. A circunferência da panturrilha pode ser uma ferramenta útil para a
identificação de pacientes críticos com maior risco de desenvolver incapacidade funcional. A
partir dos resultados, foi elaborado um protocolo de avaliação e de reabilitação funcional para
a enfermaria, visando a funcionalidade. |
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