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Aproximadamente um milhão de hectares de arroz no estado do Rio Grande do
Sul são cultivados atualmente, necessitando uma enorme quantidade de água. Este fato
se deve já que a fração de água utilizada no arroz irrigado é o somatório da água
necessária para saturar o solo, formar lâmina d’água, compensar perdas por
evapotranspiração e percolação, por exemplo. As lavouras de arroz são normalmente em
várzeas e próximas de cursos hídricos, sendo o consumo no seu ciclo em torno de 6000
m³/ha de água. Com o final do ciclo da cultura e maturação dos grãos para a colheita,
toda a água utilizada que ainda estava na lavoura é devolvida para o curso hídrico de
onde ela foi captada ou para outro curso a jusante. O arroz é um cultivo que também
demanda altas quantidades de insumos, como ureia, fertilizantes e herbicidas, os quais
retornam aos cursos hídricos na água utilizada no seu ciclo devido a ser irrigado por
inundação, afetando o ecossistema próximo às lavouras. Assim, o objetivo deste
trabalho foi avaliar a toxicidade das águas de irrigação da cultura de arroz, utilizando
testes in vivo, com espécies de modelo animal e vegetal. As amostras de água foram
coletadas em quatro pontos de uma fazenda em Viamão (RS): (i) Ponto 1: canal de
irrigação; (ii) Ponto 2: ponto de esgotamento da lavoura; (iii) Ponto 3: ponto de
captação próximo ao Rio Gravataí; (iv) Ponto 4: canal de irrigação. As coletas foram
realizadas em dois momentos: antes da semeadura e aplicação dos primeiros produtos
fitossanitários (herbicida e inseticida) e após a irrigação das lavouras, com aplicação de
herbicida, inseticida e fertilizante, nos meses de novembro de 2019 e março de 2020,
respectivamente. O trabalho analisou a ecotoxicidade de amostras de água de lavoura de
arroz, a partir dos testes de germinação e crescimento radicular em Raphanus sativus
(rabanete) e o ensaio de contato em papel filtro com Eisenia fetida (minhoca vermelha
da Califórnia). Houve um decréscimo da germinabilidade e da velocidade de
germinação no ponto 4 em novembro de 2019 e um aumento no crescimento das
plântulas em todos os pontos com exceção do ponto 4 no mês de novembro de 2019.
Em relação ao teste em Eisenia fetida, nenhuma amostra causou mais de 10% de
mortalidade como resposta à exposição às amostras. Quando aferida a perda de peso, a
porcentagem de perda de peso foi maior no ponto 3 da coleta de novembro quando
comparado ao controle negativo. Já em relação às análises microbiológicas e
físico-químicas, os resultados mostraram alguns critérios, como a turbidez e DBO, que
ficaram acima dos estabelecidos pela Resolução CONAMA 357/2005 em 87,5% das
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amostras e o pH ficou abaixo em 75% das amostras. Foi possível observar uma melhora
na qualidade da saída do efluente das lavouras no final do ciclo da cultura do arroz, no
mês de março de 2020, comparado ao mês de novembro de 2019, no seu início,
reduzindo com o passar do tempo os coliformes, a demanda bioquímica de oxigênio e a
toxicidade observada em alguns pontos. Também se observou uma diferença na
qualidade da água em relação aos períodos amostrados, verificando no mês de
novembro efeito ecotóxico das amostras de água da lavoura de arroz. Assim, deve-se
ressaltar a necessidade de boas práticas agrícolas na produção de alimentos, a utilização
responsável de agroquímicos nas lavouras e a busca por meios sustentáveis de produção
agrícola. |
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