Abstract:
Introdução: A violência no local de trabalho é um problema global significativo,
especialmente no setor de saúde, afetando mais de 50% dos profissionais. No Brasil, a
violência atinge especialmente os trabalhadores de enfermagem, que lidam diretamente com
pacientes e familiares, sendo particularmente vulneráveis, especialmente nas Unidades de
Saúde da Família (USFs). A exposição a comportamentos violentos tem sérias consequências
para a saúde dos trabalhadores e para a qualidade do atendimento.
Objetivo: Verificar a prevalência de violência sofrida pelos trabalhadores da equipe de
Enfermagem na atenção primária à saúde.
Metodologia: Estudo transversal e quantitativo, realizado em 18 Unidades Básicas de Saúde
(UBS) da coordenadoria Norte do município de Porto Alegre. A amostra incluiu profissionais
de enfermagem com pelo menos 12 meses de experiência. A coleta de dados foi realizada por
meio do questionário Survey Questionnaire Workplace Violence in the Health Sector.
Resultados: Foram incluídos 110 participantes no estudo, sendo a maioria técnicos de
enfermagem, mulheres e trabalhadores do turno diurno. Quanto à violência, 3,6% dos
participantes relataram violência física, 69,1% sofreram agressão verbal, 36,4% foram
vítimas de assédio moral, 5,5% enfrentaram assédio sexual e 5,5% relataram discriminação
racial. Em modelos ajustados para variáveis individuais (sexo, cor da pele e idade) e
relacionadas ao trabalho, verificou-se que melhoras no ambiente (OR 0,236; IC 95%
0,084–0,667; p = 0,006) e treinamento e capacitação (OR 2,759; IC 95% 1,099–6,929; p =
0,031) estavam associados ao assédio moral. Já o número suficiente de funcionários (OR
0,193; IC 95% 0,072–0,519; p = 0,001) mostrou associação com a ocorrência de violência
verbal.
Conclusão: Verificamos uma elevada prevalência de violência contra trabalhadores de
enfermagem nas unidades de saúde, destacando a violência psicológica, especialmente a
agressão verbal, como a forma mais comum. Os achados sugerem que a escassez de recursos
humanos desempenha um papel importante na origem desses episódios. Observou-se também
que ambientes de trabalho mais favoráveis estão significativamente associados à redução da
violência laboral. Além disso, a capacitação dos profissionais parece ser importante para o
reconhecimento e enfrentamento do assédio moral. Esses resultados reforçam a importância
de estratégias organizacionais abrangentes, como a melhoria das condições de trabalho e a
implementação de programas de treinamento contínuo, para prevenir a violência e promover
um ambiente mais seguro e saudável.