Abstract:
O adenocarcinoma sinonasal é uma das neoplasias que coloca o Brasil entre um dos países
que apresenta maior frequência de câncer de cabeça e de pescoço da América Latina. Esse
câncer possui como característica rápida progressão e facilidade em gerar metástases e,
embora seja reconhecido como um câncer ocupacional e tenha sua etiologia bem definida,
pouco se sabe sobre a base molecular deste tipo de câncer. O adenocarcinoma sinonasal é
correlacionado com a exposição ao pó de madeira, pó de couro, aos metais como cromo e
níquel e ao formaldeído. Algumas destas substâncias são encontrados no setor
coureirocalçadista,
setor este muito significativo social e economicamente ao estado do Rio
Grande do Sul. Assim, o objetivo deste estudo foi predizer algumas das vias moleculares
associadas à gênese e/ou a progressão do adenocarcinoma sinonasal, em trabalhadores do
setor coureiro calçadista, utilizando as ferramentas da Biologia de Sistemas. Para isso
proteínas diferencialmente expressas no câncer sinonasal e os contaminantes atmosféricos do
setor coureirocalçadista
foram prospectados e unidos formando uma única rede de interação.
Para obtenção de dados e formação das redes, diferentes ferramentas de mineração foram
utilizadas como o STRING 10.0 e o STITCH 5.0, que fazem a ligação entre proteínaproteína
e compostos químicosproteínas,
respectivamente. O desenho das redes binárias foram
realizados pelo programa Cytoscape versão 3.4.0. A análise de agrupamento de ontologia
gênica foi realizada nas redes de interação pelo programa Molecular Complex Detection
(MCODE), o Biological Network Gene Ontology (BiNGO) foi utilizado para a avaliação dos
grupos de proteínas e o CentiScaPe para as análises de centralidade. Uma rede contendo 2424
nós e 27600 conectores foi prospectada. Destes nós, 33 são poluentes atmosféricos e 27 são
proteínas presentes no Homo sapiens. A análise de clusterização indicou 79 módulos. A
análise de ontologia gênica indicou uma associação entre as proteínas do cluster 2 e o
processo de adesão celular e as proteínas do cluster 5 e o mecanismo de apoptose. A partir das
nossas análises foi possível propor um modelo molecular da ação dos poluentes atmosféricos
deste setor na inibição da adesão celular e da apoptose e na consequente formação do câncer
sinonasal. Nesse modelo, o transporte de cálcio no espaço intracelular é o mecanismo chave
que desencadeia a desregulação da sinalização celular e indiretamente, o bloqueio da apoptose
e adesão celular.