Abstract:
Este trabalho foi produzido a partir de projeto de História Oral, que resultou em
reconstruções memoriais de professores de História e de Estudos Sociais graduados e/ou
atuantes entre os anos 1974 e 1988. O recorte temporal compreende período da ditadura civilmilitar no Brasil, quando se deu a abertura política iniciada por Ernesto Geisel e a transição
democrática, concluída com promulgação da Constituição. Entre os objetivos do estudo figuram
as seguintes questões: Quais suas concepções sobre o ambiente social e político em que
viveram? Tinham algum conhecimento do que havia se passado nos bastidores do governo
militar? Como avaliam a formação recebida na graduação e seus reflexos em sua atuação
docente? Acreditam que a redemocratização tenha afetado de algum modo sua vida pessoal e
profissional? Durante o seu desenvolvimento, sustento a tese de que a partir da narrativa
memorialística do percurso desse grupo de docentes seja possível, guardada a subjetividade dos
relatos, uma compreensão de suas experiências, da construção de sua identidade profissional e
do processo de concepção a respeito da ditadura civil-militar e do ensino de História. A pesquisa
foi orientada a partir de contribuições de autores do campo de estudos em memória social.
Compõem a tese, uma revisão historiográfica sobre a redemocratização brasileira, destacando
as questões suscitadas pela Lei da Anistia, bem como uma reflexão a respeito das políticas
educacionais formuladas no regime de exceção, com foco nas leis nº. 5.540/68 e nº. 5.692/71.
A partir desse exame, fiz entrevistas de história oral com seis professores que atuaram em
escolas públicas e privadas do Rio Grande do Sul, utilizando o processo transcriativo. Com base
na análise das narrativas e em sintonia com autores dos campos da Memória Social, da História
e da História da Educação utilizados neste estudo, considero possível pensar que aquelas trazem
memórias da redemocratização brasileira pela ótica de professores que viveram aquele período
longe da militância dos movimentos de oposição à ditadura. Suas reconstruções memoriais
refletem o percurso de estudantes que se tornaram professores em meio a um contexto político,
econômico e social em transformação. As narrativas igualmente permitem entrever percalços,
alegrias e frustrações experimentadas ao longo de carreiras profissionais desenvolvidas com
esforço e dedicação. Os vestígios da ditadura civil-militar e do processo de redemocratização
emergem em episódios narrados que envolvem arbítrios e silenciamentos, recordações sobre as
comemorações cívicas da Semana da Pátria, e também a lembrança dos investimentos dos
governos militares para a modernização das universidades públicas e para a consolidação de
um sistema de pós-graduação.