Abstract:
A presente pesquisa propõe-se analisar as escritas de si de chefs midiáticos da
atualidade sob a ótica da cultura do espetáculo, da celebridade e da
performatividade. A questão que norteará as análises realizadas na pesquisa é a
seguinte: De que forma os autores mobilizam suas memórias pessoais para
expressar um eu-chef alinhado à cultura do espetáculo, do consumo, da celebridade
e da performatividade? Estimulada pelos avanços tecnológicos da cultura
globalizada, a sociedade contemporânea está vivenciando, segundo Paula Sibilia,
uma mudança radical e histórica na genealogia das subjetividades, que tem alterado
drasticamente a forma como o eu-sujeito é construído e se narra. Essa nova lógica
de auto-subjetivação, chamada de “hipertrofia do eu” ou “surto de megalomania
consentida e estimulada” tem, para ela, imperado tanto nas mídias digitais quanto
nos meios mais tradicionais, como o imponente mercado editorial global. Observar a
possível ocorrência destes fenômenos e suas reverberações em autoficções
publicadas por chefs-celebridades: um produto da indústria cultural de altíssima
popularidade e demanda, justifica a presente investigação. Inicialmente, serão
verificados os efeitos e os sentidos dos relatos desses profissionais sob a ótica da
memória e da transmissão cultural. Em seguida, esses mesmos fenômenos
serão lidos à luz da sociedade do espetáculo e da cultura da performatividade e da
celebridade. Para dar conta das questões da memória e transmissão cultural parte-
se dos conceitos propostos por Jan a Aleida Assmann. Sobre a construção do eu-
subjetivo e autoficção recorrere-se aos autores Paula Sibilia e Eurídice Figueiredo.
Para as questões da cultura do espetáculo e da performatividade mobilizam-se as
teorias de Guy Debord, Douglas Kellner e Stephen Ball. Sobre Cultura da
Celebridade utiliza-se as reflexões de Chris Rojek. A metodologia utilizada é a
análise do material empírico a partir do referencial teórico selecionado. O material
empírico está constituído pelo conjunto de três autoficções, a saber: Pois não chef,
do etiopiano-sueco-americano Marcus Samuelsson (2012); Conselhos a um jovem
chef, do franco-americano Daniel Boulud (2004) e Cozinha Confidencial: uma
aventura nas entranhas da culinária, do nato-americano Anthony Bourdain (2000).