Abstract:
Esta tese consiste em um estudo sobre a preservação e a ressignificação do acervo
bibliográfico do Instituto Geobiológico La Salle (IGB), localizado na Seção de Coleções
Especiais da Biblioteca da Universidade La Salle (Canoas/RS). O propósito principal é
contribuir para a salvaguarda e ressignificação da memória científica, assim como para o
processo de gestão documental, através de uma pesquisa sobre o IGB e seu idealizador e
primeiro diretor, Ir. Teodoro Luis (Ramón de Peñafort Malagarriga y Heras). Concomitantemente, os agentes ambientais capazes de provocar deterioração do acervo foram
avaliados, de modo a fundamentar a discussão sobre a importância da preservação documental, por ser considerada essencial à conservação dos acervos físicos de bibliotecas e centros de
documentação. O IGB, enquanto lugar de pesquisa e de colaboração, foi importante na
transmissão dos saberes e fazeres científicos dos pesquisadores nas áreas de Geografia e
Biologia. Sob esse ponto de vista, é possível caracterizá-lo como um lugar antropológico
operado sistematicamente por uma comunidade científica, que extrapolou os muros da
universidade e se perpetuou pela transmissão dos conhecimentos produzidos e seus modos de
fazer ciência. Muitas pessoas e entidades foram determinantes nesse processo, em especial o
idealizador, Ir. Teodoro Luis, que concebeu sua criação. Como diretor, foi obstinado na
defesa dos seus ideais, inspirados pelo conhecimento da flora do Rio Grande do Sul. Como
conservacionista, antevia os riscos, assumindo posturas corajosas e inovadoras. O diagnóstico
das condições físicas do acervo, bem como dos agentes microbiológicos capazes de provocar
a sua deterioração, foi realizado através de observações e coleta de amostras in loco, por meio
da utilização de instrumentos profissionais de medição. As análises foram conduzidas pelo
GRAM - Laboratório de Análises Microbiológicas. Os resultados obtidos, com raras exceções, estão de acordo com a legislação vigente no que se refere à qualidade do ar interior em
ambientes climatizados artificialmente, de uso público e coletivo. Embora a concentração de
bioaerossol cultivável não fosse alta, os gêneros Aspergillus, Cladosporium, Penicillium, Alternaria, Candida tropicalis, Rhodotorula, e as espécies de fungos Hialinos e Dematiáceos, conhecidos como potenciais alergênicos, agentes tóxicos e oportunistas, foram os fungos
isolados mais abundantes. Aspergillus e Cladosporium também foram encontrados em
superfícies de livros, constatando-se, através de parecer técnico, o nível de biodeterioração
nas amostras analisadas, e considerando-se a biota fúngica semelhante entre o ar e as
superfícies dos livros. As condições climáticas internas, como temperatura e umidade relativa, também devem ser gerenciadas de forma a controlar os níveis de bioaerossol e evitar a
10
contaminação microbiológica dos materiais. O conhecimento sobre essas relações é de
interesse, tanto no que diz respeito à possibilidade de prever a presença de fungos em locais
fechados e suas características, quanto à avaliação das medidas de controle destinadas a
reduzir a presença de fungos em ambientes internos, minimizando problemas de saúde e
danos materiais aos acervos bibliográficos, compostos principalmente de papel, cola, pano e
couro, fontes de nutrientes para os microrganismos. O monitoramento microbiológico de
ambientes contendo acervos, portanto, é de importância não apenas para a conservação do
patrimônio cultural, mas também para a saúde humana. Os acervos bibliográficos estão
expostos a diversos fatores de risco e é preciso que os gestores de bibliotecas saibam
administrá-los, de forma a salvaguardar os acervos e a memória do saber da melhor forma e
pelo maior tempo possível.