Abstract:
A presente tese versa sobre as relações entre duas duplas de abordagens teóricas: a dupla
Memória Institucional (MI) e Racionalidade Substantiva (RS) e a dupla Memória
Organizacional (MO) e a Racionalidade Instrumental (RI), servindo como lentes analíticas
para os contextos de gestão de duas cooperativas de reciclagem. Em conjunto, MI & RS
referem-se às práticas diárias que formam hábitos e constroem os sistemas sociais, promove
autonomia, cria valores e sentidos que remetem ao reconhecimento social. MO & RI referemse ao compartilhamento de informações do passado voltadas para a operacionalização de
processos de gestão e produção, a fim de atender metas e objetivos no presente. O campo
empírico desta tese é o contexto cooperativo de trabalho no campo da reciclagem cuja
premissa é que o trabalho coletivo gere trabalho e renda em um ambiente de vulnerabilidade
socioeconômica. Assim, a tese desta pesquisa foi: É possível criar um framework teóricometodológico para compreender os processos de gestão de cooperativas a luz das abordagens
teóricas da MO & RI e da MI & RS. O objetivo geral foi de construir um modelo
teórico/metodológico para fundamentar análises sobre a gestão a partir das abordagens da
Memória Organizacional e Racionalidade Instrumental e da Memória Institucional e
Racionalidade Substantiva. Para atingir ao objetivo empreendeu-se metodologicamente a
uma pesquisa qualitativa com inspiração etnográfica por meio de um estudo de casos
múltiplos em duas cooperativas de reciclagem de Canoas/RS. Foram realizadas 53 visitas aos
dois empreendimentos, onde foram realizadas observações participantes, (128 laudas de
Diário de Campo) e 14 entrevistas (259 laudas de transcrições) e análise documental. Os
dados foram analisados segundo a Análise de Conteúdo a partir de duas grandes categorias
(MO & RI; MI & RS), onde foi realizado um cruzamento entre os resultados das análises das
duas cooperativas. Ao final, foi construído um framework teórico-metodológico onde a tese
desta pesquisa foi confirmada. Os principais achados referem-se a duas grandes agendas que
se evidenciam paralelamente na prática diária dos ambientes organizacionais: a maneira como
as informações são operacionalizadas em prol dos resultados e fins; e às ações recíprocas que
geram intersubjetividade, as quais interferem no significado individual e coletivo da função
social do trabalho que impacta nas relações sociais e na autonomia. Nesse sentido, foi
evidenciado dois modos de gestão: em uma cooperativa observou-se que aquisição e
compartilhamento das informações promovem aprendizagem e autonomia, sendo a
subjetividade do ser humano respeitada, onde a dimensão intersubjetiva é pautada pela
cooperação. Evidenciou-se também ambiguidade nesta cooperativa em termos de maior
autonomia e menores ganhos mensais em relação a um autocontrole frágil na escolha pelo
prazer imediato, o que evidencia tensão entre as duplas abordagens. Na outra cooperativa os
processos de gestão evidenciam-se sob o controle da coordenação o que gera centralização de
informações e do poder, padrões de interação caracterizados por dependência, assimetrias e
alienação dos cooperados, diminuição da participação, silenciamento das memórias o que
inibe o aprendizado, prejudicando os fins (desempenho). A proposição teórica-metodológica
resultante, apresenta as categorias de análise operacionalizadas com a identificação de
extremos balizadores para a análise em outros contextos organizacionais.