Abstract:
Esta tese assume como problemática de pesquisa a investigação sobre as
concepções de cultura e os rastros memoriais do Sistema Estadual de Cultura do Rio
Grande do Sul, a partir da perspectiva da complexidade de Edgar Morin, com foco no
princípio dialógico, na visão hologramática e no pensamento recursivo, considerando
o período de 2011 a 2021. A pesquisa é qualitativa e tem como objetivos: 1) Identificar
os rastros memoriais do Sistema Estadual de Cultura do Rio Grande do Sul, no
período de 2011 a 2021, a partir do princípio dialógico da complexidade; 2) Investigar
quais concepções de cultura estão contidas nos ditos e escritos sobre o Sistema
Estadual de Cultura do Rio Grande do Sul, a partir do pensamento sistêmico e do
circuito recursivo da complexidade; 3) Verificar sob quais condições emergiu o
Sistema Estadual de Cultura como a principal política pública de cultura no Rio Grande
do Sul, a partir da perspectiva hologramática e da auto-eco-organização com o
Sistema Nacional de Cultura e as políticas culturais internacionais. O percurso
investigativo está amparado teórica e metodologicamente na perspectiva do
Paradigma da Complexidade de Edgar Morin, além de tecer relações com outros
pensadores da Memória Social, Cultura e Políticas Públicas. Os caminhos da
pesquisa foram marcados pelo levantamento bibliográfico; observações casuais feitas
pela pesquisadora ao longo dos últimos 10 anos; análise das materialidades do corpus
a partir dos flashes produzidos pelo prisma da complexidade, assumindo os princípios
dialógico, hologramático e recursivo como categorias analíticas. O corpus engloba
excertos de documentos legais de regulamentação das políticas culturais, além de
registros das observações casuais feitas em conferências de cultura, reuniões de
conselhos e colegiados, experiências na gestão pública e privada, capacitações e
consultorias realizadas, dentre outras vivências da pesquisadora no período de 2011
a 2021. A tese apresenta algumas reflexões para a prática, dentre as quais a
constatação de que um dos entraves para a gestão compartilhada e o pleno
funcionamento do Sistema é a permanente disputa por um conceito de cultura
majoritário e consensual entre o poder público e a sociedade civil organizada,
reforçando o modelo de pensamento dicotômico, excludente e que não considera a
pluralidade de concepções de cultura em cada dinâmica social. Uma nova prática
possível é gerir a política pública de forma transversal e extrapolar as categorias
determinadas pelas linguagens artísticas, implementando a concepção de
transculturalidade nos espaços de gestão compartilhada. Implantar modelos de
gestão inclusivos, integradores e que respeitem a complexidade da cultura, garantindo
espaços para o exercício da democracia com mais justiça social e cognitiva. Um
Sistema que oportunize a construção de novos quadros de interpretação do mundo, a
partir de dispositivos inovadores que promovam transformações na realidade social.