Abstract:
Este estudo tem por objetivo analisar como se configuraram as relações entre memórias
e identidades ao longo do tempo e se insere em uma perspectiva de estudos de memória
de organizações universitárias. Aborda uma unidade universitária da área de ciências
exatas em uma instituição pública de ensino superior sul-rio-grandense e a transmissão
da memória ao longo de 62 anos de existência. Buscou o suporte teórico em estudos de
memória social, identidades coletivas e teoria institucional para revisitar o conceito de
memória institucional. Procurou aprofundar questões epistemológicas que fundamentam
estudos qualitativos e as tradições teóricas que se entrecruzam nas escolhas
metodológicas e no exame da memória como objeto transdisciplinar. Elegeu-se um
estudo de caso qualitativo de inspiração longitudinal, conduzido no Instituto de
Matemática e Estatística da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com dados
reunidos por meio de entrevistas, documentos e vídeos. A interpretação apoiou-se no
instrumental teórico da análise do discurso, evidenciando metáforas e comparações
como transmissores simbólicos de identidades e visões da organização. Os discursos
permitiram formar redes de sentido que evidenciaram a memória institucional e as
identidades de seus agentes. Os resultados das análises indicaram que a memória possui
dimensões esquecidas e silenciadas, pois as interações encontram-se enfraquecidas e as
identidades difusas. As mudanças institucionais podem ser percebidas entremeadas em
longos ciclos geracionais, por isso não existe um planejamento para a transmissão de
legados, embora tenha se observado que a longa permanência constrói identidades
institucionalizadas. Conclui-se que as relações entre a memória institucional e as
identidades em uma unidade universitária da área de ciências exatas em uma
universidade federal de ensino superior são construídas e articuladas envolvendo um
alto grau de complexidade, o que implica em dividir silêncios e multiplicar lembranças
em um constante movimento entre o lembrar e o esquecer, entre o instituído e o
instituinte.