Abstract:
Em regra, a compreensão do fenômeno jurídico vem sendo limitada pela disposição
normativa inscrita na lei e na Constituição, de um lado, e a decisão judicial, de outro,
não se preocupando o jurista com os fatores que levaram à estipulação de um certo
direito ou à supressão de outro, o que confere certa invisibilidade aos poderes
econômicos do mercado para exercer sua influência nos processos de criação
legislativa, o qual se torna mais complexo no âmbito dos Estados Federais. Em
consequência, surge a questão: “Os poderes econômicos do mercado podem
influenciar no processo legislativo de forma a causar conflitos federativos, levando à
precarização dos direitos fundamentais? O presente estudo, vinculado à área de
concentração Direito e Sociedade e à linha de pesquisa Efetividade do Direito na
Sociedade, busca lançar luzes sobre essa questão, fornecendo respostas honestas
ao questionamento proposto. Nosso objetivo principal é aferir se os agentes
econômicos, atuando como poderes selvagens, podem influenciar no processo
legislativo de forma a causar conflitos federativos e levar à precarização dos direitos
fundamentais. Os objetivos específicos são examinar se o Constitucionalismo
Garantista apresenta fundamentação teórica capaz de domesticar esses poderes
selvagens; analisar de onde surgem os conflitos federativos e como eles podem ser
resolvidos; apontar as distintas formas da exploração econômica da água, desde
sua qualificação como res nullius ao seu reconhecimento enquanto mercadoria; e
explorar, por meio de pesquisa empírica, de forma a atuação dos poderes selvagens
do mercado influenciam na tarefa dos legisladores, com o potencial de causar
conflitos federativos e de precarizar os direitos fundamentais conferidos à pessoa
humana. Dessa forma, o texto encontra-se organizado em quatro capítulos: O
Modelo Teórico do Constitucionalismo Garantista; O Surgimento e a Consolidação
dos Estados Federais; A Exploração da Água: de Res Nullius a Bem Fundamental; e
Os Conflitos Federativos e a Exploração da Água. O trabalho foi desenvolvido por
meio de pesquisa documental, tendo por referencial teórico o Constitucionalismo
Garantista criado por Luigi Ferrajoli, com a pesquisa qualitativa de atos legislativos e
projeto de lei, utilizando-se a Análise do Discurso de Michel Pêcheux para o exame
dos documentos apresentados no âmbito da pesquisa empírica, além da
indispensável revisão de bibliografia acerca da matéria discutida. Nossa conclusão –
contrariando a hipótese principal – é de que, ao menos nos limites do presente
trabalho, os poderes econômicos do mercado, apesar de influenciarem no processo
de formação legislativa, não causam conflitos federativos, em face do alinhamento
dos legisladores com aqueles agentes.