Abstract:
Estradas são empreendimentos essenciais às sociedades e inevitáveis no mundo atual.
Decorrentes da implementação das rodovias, estão os atropelamentos de animais,
considerados como uma das principais causas diretas de mortalidade de vertebrados
silvestres. Investigaram-se as espécies de mamíferos silvestres vitimadas e os hotspots
de óbitos ao longo do trecho de 211,22 quilômetros da BR-116/RS, entre Guaíba e
Pelotas, além dos fatores que possam influenciar as variações temporais e espaciais
nos atropelamentos. Os dados foram coletados com periodicidade bimestral pela
empresa STESA (Serviços Técnicos de Engenharia S. A.), em 13 monitoramentos
realizados com velocidade média de 40 km/h, no período de outubro de 2012 a
novembro de 2014. O esforço amostral compreendeu 422 quilômetros percorridos por
campanha. As variações espaciais e temporais no número de atropelamentos, bem
como sua associação com variáveis climáticas ou com o volume de tráfego foram
testadas por meio de análises paramétricas ou não-paramétricas, realizadas no
programa GraphPad InStat 3.01. As análises de agregação, identificação de hotspots de
atropelamentos e a estimativa da taxa de mortalidade para a rodovia foram realizadas
no software Siriema 2.0. Realizou-se, ainda, análise das espécies mais atropeladas e
sua relação com a composição da paisagem. Foram registrados 796 mamíferos
silvestres atropelados, 50,1% dos quais se referem a Didelphis albiventris. A taxa de
mortalidade estimada para a rodovia é de 12,82 animais/dia. Diferenças temporais nos
atropelamentos foram incomuns (somente entre os invernos de 2013 e de 2014), e
temperatura e precipitação não mostraram correlação com o número de atropelamentos.
O volume de tráfego apresentou relação inversa significativa com o número de
atropelamentos, sugerindo o efeito de evitação quando o trafego é mais intenso. Os
atropelamentos ocorreram formando agregações ao longo da rodovia, com 21 zonas de
hotspots identificadas. Indica-se, como medida mitigadora, a instalação de
sonorizadores na pista para redução da velocidade em associação com placas com
sinais luminosos informando sobre a travessia de fauna local, execução de campanhas
educativas envolvendo os motoristas e, a instalação de passafaunas nos hotspots com
entorno bem preservado e distante de áreas urbanas.