Abstract:
A política econômica neoliberal é um fenômeno preocupante à medida que não demonstra
apenas versatilidade de autoajuste na economia dos países globais. Ela também age nas relações
subjetivas, profissionais e de gênero, alterando o entendimento das classes sociais sobre o valor
do seu próprio trabalho. Pensando nisso, a pesquisa realizada no TJRS buscou apresentar a
rotina institucional de trabalhadoras terceirizadas no setor de limpeza, asseio e conservação
geral, nos quadros da Administração Pública. A escolha de desenvolver o estudo sociológico
sobre o tema da terceirização questiona o argumento da “modernização econômica”, usado para
sustentar uma governabilidade de reestruturação do Estado sob a condução hegemônica do
neoliberalismo na área trabalhista. O problema se agrava quando a Administração Pública passa
a optar pelos riscos e prejuízos associados à terceirização como um meio de diminuir custos
com os seus trabalhadores, ignorando quebras, prejuízos salariais, demissões, falências etc. Para
isso, o problema de pesquisa buscou compreender como a violência econômica neoliberal se
sobressai de diferentes formas, inclusive como componente psicológico. Às vezes, impondo
exigências e obrigações maiores sobre os corpos e a vida das mulheres de formas não tão
perceptíveis, seja no convívio entre espaços públicos e privados. Interrogou-se, portanto, que
percepções as múltiplas jornadas de trabalho das mulheres despertam na sociedade e de que
maneira geral se articulam em conjunto com a distribuição cultural de maiores atividades de
desempenho, de entrega e de resultados (no trabalho produtivo e no reprodutivo). Como
metodologia, adotamos o método de entrevistas semiestruturadas, trazendo a narrativa de 13
trabalhadoras terceirizadas. Verificamos se existe, de fato, uma racionalidade neoliberal que,
em linhas gerais, opera no sentido de precarizar, adoecer e empobrecer ainda mais as mulheres
como alguns de seus maiores ímpetos. A terceirização é definida como um método, uma das
amostragens dessa racionalidade, que surge como um potente problema político de justiça, ao
estacionar questões de gênero na desigualdade. Os resultados da observação empírica
concordaram com a maioria das hipóteses de auto exploração levantadas. 11 categorias de
análise diferentes emergiram do campo e foram selecionadas para embasar os principais
pressupostos de investigação apresentados. O recorte desse estudo busca encontrar gatilhos para
repensarmos a divisão sexual do trabalho, as condições de precarização da mão de obra
terceirizada, as desigualdades de gênero e a crise política do cuidado, como problemas de
grande fundamento para a democracia.