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Ainda que a situação do sistema prisional brasileiro seja discutida em diversos aspectos, é
imperiosa e oportuna a abordagem sobre o reconhecimento das relações afetivas dentro de um
ambiente tão limitador, pois essa é a realidade de muitos casais. O cárcere abriga não só os
apenados, mas também inúmeras mulheres que visitam seus entes queridos durante o período
em que estão presos, ainda que seja de maneira provisória. A conjuntura das prisões brasileiras
é, em sua maioria, precária, contribuindo para inúmeras violações de direitos humanos e
fundamentais, de titularidade, tanto dos encarcerados quanto de seu grupo familiar. Assim, este
estudo teve como objetivo principal pesquisar, identificar, compreender e analisar a importância
das visitantes e a efetividade das relações afetivas no contexto prisional, a partir das narrativas
de esposas e companheiras de pessoas que já cumpriram ou estão cumprindo pena em
estabelecimentos prisionais no estado do Rio grande do Sul. O estudo apresenta informações
sobre a realidade das prisões que, conforme declarado pelo Superior Tribunal Federal,
configuram um “Estado de Coisas Inconstitucional” e sobre a maneira como a pandemia
originada pelo vírus SARS- CoV-2, causador da COVID-19, afetou o cenário. Discutem-se as
medidas preventivas implementadas pelo Governo, Estado e Judiciário no combate à doença e
analisa-se a forma como as familiares organizaram-se para defender a dignidade de seus entes
e preservar seus vínculos conjugais. O trabalho empírico foi realizado a partir da inserção em
grupos de familiares, acompanhando manifestações, reuniões e entrevistando esposas e
companheiras no período de 09/09/2021 a 14/09/2021. O referencial teórico escolhido foi
Boaventura de Souza Santos (2021), com a obra “Da pandemia à utopia: o futuro começa
agora”. Realizou-se o estudo utilizando-se o método dialético e a técnica de entrevistas
semiestruturadas, intentando responder às seguintes questões: há relevância e reconhecimento
dos vínculos afetivos para o contexto prisional? Em tempos de pandemia, com ausência ou
limitação de visitas, os relacionamentos são fortalecidos ou enfraquecidos? As instituições
prisionais e o Estado, em si, reconhecem a importância das visitantes para o contexto? Para
responder às questões que constituem o problema, desenvolveu-se uma pesquisa qualitativa,
durante a qual foram entrevistadas dez esposas e companheiras, cujas narrativas foram
submetidas à análise de conteúdo, conforme Bardin (2006). Os resultados apontam que as
visitantes têm suas vidas reorganizadas a partir da prisão dos seus maridos e companheiros,
com destaque na vida financeira, social e emocional, sobrecarregando-se psicologicamente para
agir, inclusive na falha de proteção por parte do Estado aos indivíduos que estão sob sua
custódia. O tratamento às familiares ainda é preconceituoso e, por vezes, ofensivo. Com os 10 relatos e descrições das experiências vivenciadas pelas participantes da pesquisa, o trabalho
apresenta como importante reflexão a necessidade do reconhecimento da importância dos
vínculos afetivos para a preservação do respeito e da dignidade de todos os envolvidos. |
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