Abstract:
Atualmente a sociedade apresenta uma tendência voltada para a necessidade do
diálogo e de abertura ao outro. Ao comportamento policial também são demandadas,
pela sociedade, novas condutas, que não mais admite coerção e controle embasadas
em um condicionamento estético. O objetivo deste estudo é identificar como as
práticas de mediação alinhadas à Justiça Restaurativa nos Núcleos de Mediação da
Polícia Civil são evidenciadas nas percepções de policiais civis que foram capacitados
como mediadores de conflitos, sob o prisma da Memória Institucional. Para atingir o
objetivo, realizou-se uma pesquisa qualitativa, na qual foram analisados documentos
e entrevistados 29 policiais civis que haviam participado do curso de extensão de
mediação oferecido pela ACADEPOL/RS, sendo que as entrevistas foram transcritas
e analisadas segundo a análise de conteúdo. Os resultados indicaram evidências de
uma mudança paradigmática na cultura de atuação policial, por meio de ações
embasadas na justiça restaurativa e mediação, estimuladas pelo curso de extensão
promovido pela ACADEPOL/RS. Além disso, a hipossuficiência do modelo
tradicionalpunitivo tem aberto espaço institucional para a aplicação da mediação, uma
vez que ela pode ser vista como um meio pacificador de relações e de
empoderamento do indivíduo, trazendo efeitos transformativos em todos os
envolvidos (vítima, ofensor/a, mediador), as quais referem-se à tomada de
consciência de si mesmo por meio da conscientização dos fatos desencadeadores do
conflito e da auto rresponsabilização em um processo de reeducação profissional e
pessoal, embasado na escuta e na confiança, desenhando, inclusive, novos contornos
na identidade institucional da polícia civil. Além disso, a mediação mostrou-se como
potencial instrumento de construção da cidadania. Portanto, o pressuposto gerado por
esta pesquisa é de que a aplicação dos processos de mediação pode fomentar o início
de uma mudança de identidade do policial civil, uma vez que diferentes quadros
sociais da memória são ativados, os quais a nutrem, caracterizados pelo diálogo e
pelo autoconhecimento como um gatilho para a autotransformação. Porém, os
resultados indicam que a institucionalização da mediação se encontra engatinhando,
pois não se encontrou evidências de que ela está institucionalizada, mas como um
processo que se encontra em andamento e que se depara com barreiras institucionais.