Abstract:
Este trabalho, que foi desenvolvido no Programa de Pós-graduação em Direito -
Doutorado em Direito - da Universidade La Salle – Unilasalle, tem por área de
concentração Direito e Sociedade. Está inserido na linha de pesquisa sociedade e
fragmentação do Direito e ligado ao projeto de pesquisa “Em Busca de Novas
Gramáticas para os Direitos Humanos: inovações sócio-jurídico-políticas entre
América Latina e África”. Dialoga com os Grupos de Pesquisa "Diálogos culturais
transfronteiriços: pluralismo e Direitos Humanos" e "Efetividade dos Direitos e Poder
Judiciário" do PPG em Direito e com o Grupo de Pesquisa "ComGênero:
interseccionalidades com Educação e Direitos Humanos" do PPG em Educação, da
Universidade La Salle - Unilasalle, Canoas-RS. O trabalho tem como objetivo trazer à
tona a presença do Comum nas Casas de Acolhimento LGBTQIA+ e a importância
deste na reconstrução da Cidadania e Dignidade dessas pessoas. Demonstrar o
quanto o Comum se faz presente nesses ambientes. Diante da grande temática dos
Direitos Humanos, sob a ótica da Dignidade da Pessoa Humana e do Comum, e a
partir da aproximação etnográfica nas Casas de Acolhimento LGBTQIA+ e com seus
habitantes que foram expulsos de seus lares, ou que, por alguma razão, deixaram de
viver com seus familiares, coloca-se o seguinte problema de pesquisa: Como o
Comum está presente no contexto das Casas de Acolhimento LGBTQIA+ de uma
forma contemporânea? Buscou-se, por meio da aproximação etnográfica, entrevistas
e outros materiais, entender o funcionamento das Casas de Acolhimento LGBTQIA+,
as percepções das pessoas que nelas estão, moradoras ou gestoras, e verificar a
presença do Comum nesses espaços. O referencial teórico aborda questões de
direitos humanos, igualdade, o Comum e a demanda por direitos da população
LGBTQIA+, tendo como autores principais Joaquim Herrera Flores, Ana Méndez de
Andés, Eduardo Relly, Pierre Dardot e Christian Laval. Na análise verifica-se que
quanto mais o Poder Público é afastado desses espaços, mais o Comum se faz
presente e aparentemente mais sólida é a reconstrução da dignidade das pessoas
que habitam esses equipamentos. Em contraponto aos equipamentos estatais ou nos
quais o estado possui de alguma forma ingerência, são mais bem estruturados, muitas
vezes funcionando como verdadeiros hotéis. Nesses locais, cumprem-se somente as
questões de albergaria, diminuindo, entre seus habitantes, a sensação de casa e de
responsabilidade coletiva. Ou seja, quanto mais institucionalizado o ambiente, menos
o Comum se faz presente e mais distante de um ambiente onde não somente se
acolham pessoas LGBTQIA+, mas também se reconstruam suas dignidades. Entre os
resultados desta pesquisa destacam-se os seguintes: a) as Casas de Acolhimento
exclusivamente para pessoas LGBTQIA+ existem em número muito inferior ao
necessário para amparo dessa população; b) as Casas de Acolhimento mantidas pelo
Poder Público ou assistidas por este possuem sua atuação restrita muitas vezes
somente à albergagem; c) as Casas de Acolhimento mantidas por ONGs ou OSCs
possuem uma eficiência maior na reconstrução da dignidade das pessoas que por
elas passam; d) as características do Comum se fazem mais presentes nas Casas
onde o aparato estatal não atua. Por fim, entende-se que o Comum se faz presente
nas Casas de Acolhimento LGBTQIA+ geridas por ONGs ou OSCs, fazendo com que
nesses espaços existam, além da habitação para esse público, alicerces (fomentados
pelo Comum) para a reconstrução de suas dignidades e cidadania.