Abstract:
Este trabalho, que foi desenvolvido no mestrado em Direito do Centro
Universitário La Salle – Unilasalle, tem por área de concentração Direito e
Sociedade. Está inserido na linha de pesquisa sociedade e fragmentação do
Direito e ligado aos projetos de pesquisa “a construção da cidadania na
democracia constitucional e o debate sobre a justiça” e “adoção por casais
homossexuais e legitimação da homoparentalidade pelo poder judiciário”. O
trabalho tem como objetivo compreender como a adoção de crianças ou
adolescentes por casais homossexuais masculinos é percebida, a partir da
opinião dos próprios casais, através de seus relatos, com vistas à concretização
da família. O problema de pesquisa que se coloca é o seguinte: Existem
empecilhos na adoção por pares homossexuais masculinos do ponto de vista
destes? Se sim, de quais órgãos ou atores são decorrentes esses entraves,
quais os tipos e o que os justificariam? A partir dos relatos de casais
homossexuais masculinos, que tiveram suas adoções deferidas pelo Poder
Judiciário gaúcho e concretizaram a unidade familiar desejada, faz-se uma
análise do percurso desses casais, desde a habilitação para a adoção, passando
pela homologação da mesma, entre os anos de 2003 e 2015, em Porto Alegre e
região metropolitana. Buscou-se suas percepções, suas sensações, suas
expectativas e suas experiências dentro do modelo homoparental de família, por
meio de entrevistas. O referencial teórico aborda questões de direitos humanos,
cidadania, igualdade e suas ligações com a sexualidade. No recorte empírico
desta pesquisa, foram feitas entrevistas com cinco casais. O método de análise
de conteúdo (BARDIN, 1995) foi utilizado nesta pesquisa. Na análise do material
transcrito das entrevistas, verifica-se que os casais elogiam a boa receptividade
que tiveram pelo Judiciário, tecendo comentários positivos, destacando nomes e
comportamentos que foram positivamente marcantes em seus processos de
adoção. O perfil de interesse dos casais também é um item marcante, uma vez
que eles se mostram dispostos a adotar crianças ou adolescentes com perfis
amplos (cor, idade, sexo, doenças, etc.). Em contraponto ao comportamento
positivo relatado pelos entrevistados em relação ao Judiciário, têm-se os relatos
de preconceitos advindos da sociedade, que se apresentaram em todas as
entrevistas de diversas formas. No entanto, com todos os enfrentamentos
desses casais, permeia entre eles a sensação de pioneirismo e orgulho de suas
famílias homoparentais. Entre os resultados desta pesquisa destacam-se os
seguintes: a) não houve, na percepção dos entrevistados, em nenhum momento,
por parte do Judiciário local, atitude que caracterizasse preconceito ou
discriminação; b) o perfil da criança de interesse dos casais adotantes era
amplo, ocasionando uma facilidade na adoção; c) a maioria dos casais
entrevistados relataram eventos nos quais foram alvos de preconceito, dentro do
convívio social cotidiano; d) todos os casais afirmam suas identidades
homossexuais e a família homoparental no momento em que buscam seus
direitos nas mais diversas esferas. Por fim, entende-se que não se omite o
Judiciário da cidade de Porto Alegre e região metropolitana para que a garantia
constitucional de igualdade seja efetivamente estabelecida nos casos de adoção
por casais homossexuais masculinos.