Educação e espiritualidade: diálogos possíveis desde um pensar latino-americano

Abstract

Este estudo caracteriza-se como pesquisa bibliográfica, de natureza qualitativa, com objetivo exploratório, e tem como temática central a espiritualidade na Educação brasileira. Está ligado à Linha de Pesquisa 3: “Culturas, Linguagens e Tecnologias na Educação”, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade La Salle. Nos primeiros movimentos da pesquisa, constatou-se que existe um número significativo de trabalhos que abordam a espiritualidade na pesquisa brasileira em Educação. No entanto, não há definição ou compreensão compartilhada em relação ao seu conceito nessa área de saber. Essa situação representa um obstáculo para a elaboração de projetos de ensino ou propostas pedagógicas que contemplem a espiritualidade, bem como pode resultar em propostas inadequadas e insuficientes. Importa ressaltar que o pensamento racionalista eurocêntrico ocidental excluiu a espiritualidade das discussões científicas. Portanto, dificilmente, a Educação encontrará subsídios teóricos suficientes para compreender a espiritualidade na epistemologia ocidental. Em vista disso, este estudo esforçou-se para estabelecer um diálogo interepistêmico e intercultural, voltando-se para o conhecimento proveniente de povos e culturas que resistiram ao apagamento da espiritualidade. Desse modo, a questão da pesquisa é: Quais possíveis diálogos podem ser estabelecidos entre Educação e espiritualidade desde um pensar latinoamericano? Seu objetivo geral é compreender quais possíveis diálogos podem ser estabelecidos entre Educação e espiritualidade desde um pensar latino-americano. Para tanto, utiliza-se a hermenêutica como abordagem metodológica. O corpus de análise é formado por 65 dissertações e 41 teses de programas de pós-graduação em Educação do Brasil que abordam a espiritualidade. O estudo posiciona a discussão no campo da Antropologia Filosófica. Por isso, tem como principais aportes teóricos Henrique Lima Vaz e Rodolfo Kusch, entre outros autores do pensamento descolonial e da literatura indígena brasileira. A tese defendida é de que os sentidos unificados atribuídos à espiritualidade, pela pesquisa brasileira em Educação, podem ser compreendidos desde uma epistemologia descolonial e fundamentados na Antropologia Filosófica e na multiculturalidade do pensamento latino-americano. Desde um pensar latinoamericano, a espiritualidade pode ser entendida como o processo de integrar o homem com ele mesmo, ou seja, seu corpo, sua alma e seu espírito; com o outro, a partir da construção do pensamento coletivo; e com o mundo, desde o desenvolvimento da noção de pertencimento e da conexão com a terra que habita. Nessa perspectiva, a espiritualidade é indispensável para a significação da vida e para o processo do homem até se tornar pessoa e, portanto, deve ser considerada dentro de todo projeto e ato educativo. Esse conceito de espiritualidade pode representar um avanço, no sentido da construção de uma compreensão própria de espiritualidade na área da Educação do Brasil, e pode fundamentar futuros estudos, projetos educativos e práticas pedagógicas que visem à inclusão da espiritualidade.