Abstract:
O presente estudo, que integra a linha de pesquisa Culturas, Linguagens e
Tecnologias na Educação, do Programa de Pós-graduação em Educação da
Universidade La Salle, buscou analisar e compreender como se estrutura o
fenômeno das expectativas e práticas parentais e como ele poderia vir a interferir
nas experiências educativas esportivas e no desenvolvimento de crianças
praticantes de futsal levando em conta as características da cultura contemporânea.
Foram utilizados os paradigmas das abordagens da teoria crítica social, da teoria
crítica da educação, da teoria crítica do esporte, da psicologia sócio-histórica e do
saber psicanalítico como referências para analisar os sentidos desse fenômeno.
Dentro de uma perspectiva hermenêutica, o estudo, cujo caráter é qualitativo,
exploratório e descritivo, foi realizado em três campos de pesquisa destinados à
prática do futsal infantil, localizados nas cidades de Porto Alegre – RS e Canoas –
RS. Os sujeitos da pesquisa foram os pais, as mães e os filhos, integrantes de três
famílias pertencentes a cada espaço esportivo. Entrevistas semiestruturadas e diário
de campo foram os instrumentos utilizados para produção do material discursivo,
servindo-se dos dispositivos da análise textual discursiva para exploração do
material. Por meio das análises, foi possível perceber que as expectativas e as
práticas parentais se estruturam a partir de representações do imaginário parental,
de aspectos narcísicos do casal parental e de ideais sociais consagrados na cultura.
As expectativas e práticas parentais predominantes percebidas pareceram ir ao
encontro dos ideais de transgeracionalidade, de sucesso, de controle da
experiência, de fascínio pela performance e de hedonismo. Em relação às possíveis
interferências sobre o desenvolvimento infantil, percebeu-se que as crianças se
prejudicam quando são pressionadas a crescer emocionalmente, tornando a
experiência esportiva infantil uma temporalidade dolorosa na medida em que passa
a ser regida pela tristeza, pela hiperatividade, pelo medo e pela ansiedade. Também
foi percebido que algumas crianças que compartilhavam o mesmo ambiente
esportivo que as crianças partícipes da pesquisa pareciam apresentar acentuada
instabilidade emocional, demonstrando-se irritadas, indispostas, agressivas,
intolerantes e angustiadas. O estudo permitiu sustentar a Tese segundo a qual as
expectativas e práticas parentais possuem, sim, o poder de interferir
substancialmente na formação esportiva de crianças e nas práticas educativas
ligadas a ela, constituindo um exemplar bastante significativo de valores
hegemônicos na cultura contemporânea. A partir das orientações dos paradigmas da
teoria crítica social, observou-se e sugeriu-se potencialidades adormecidas no
“caso-futsal” com o intuito de qualificar a experiência humana e educativa esportiva
das crianças envolvidas, sendo elas: a valorização da experiência infantil, a tomada
de consciência da precariedade simbólica que se vive na atualidade, o fenômeno do
futsal infantil enquanto prática efetivamente formadora e não apenas “treinamento”,
o estímulo a uma experiência protagonista das crianças dentro do ambiente do futsal
infantil, a atualização do valor da tradição esportiva, a valorização do papel de
mediador do educador esportivo, e o educando como o principal beneficiário do
processo educativo esportivo, com uma meta educacional direcionada à formação
na perspectiva da integralidade do ser humano.