Abstract:
Esta tese – inscrita na linha de pesquisa “Formação de professores, teorias e práticas
educativas”, da Unilasalle – trata da contribuição do modelo epistêmico adotado por
profissionais de Educação Física (EF) no ensino do futebol, tanto na universidade quanto no
clube, para a produção de sujeitos “pés de obra”. Um dos maiores problemas enfrentados pelo
futebol, é a estrutura vigente na formação escolar e esportiva dos estudantes-atletas, reduzindo
esses jovens à condição de objeto. Os estudantes-atletas estão inseridos em um mercado de
trabalho restrito, onde o jogador passa a ser um item nas mãos de investidores e clubes,
deixando de ser responsável por administrar a sua própria força de trabalho. Nesse âmbito,
percebemos que a escola e a universidade pouco contribuem para a formação de um jogador de
futebol, pois transferem essa responsabilidade para os clubes, apesar de a profissão de jogador
de futebol ser uma das mais procuradas pelos jovens de classes populares. Esta tese tem como
objetivo geral: Analisar, amparado na perspectiva decolonial, o modelo epistêmico adotado por
profissionais de EF no ensino do futebol, em universidades e em clubes, e sua relação com a
produção de sujeitos “pés de obra”. Quanto ao aspecto teórico-metodológico, buscamos apoio
na teoria decolonial, com uma abordagem qualitativa, do tipo híbrida. Empregamos uma escrita
metafórica relacionada ao futebol na construção de um texto na perspectiva decolonial e
utilizamos o recurso do texto visual, para caracterizar os momentos do jogo de
futebol/capítulos. Para a coleta de dados, usamos entrevistas semiestruturadas, análise
documental e observações participativas. O tratamento dos dados e a discussão dos resultados
fundamentou-se na proposta sócio cognitiva de análise crítica de discurso, de Van Dijk. Os
resultados do estudo foram: as IES-EF não valorizam a disciplina de futebol, mesmo esse
desporto fazendo parte significativa da cultura nacional; a disciplina de futebol pouco trata de
conteúdos relacionados aos preconceitos no futebol, a formação de jovens atletas e as
dificuldades no futebol. Em relação aos clubes de futebol, a formação humana dos jovens atletas
não faz parte da preparação e objetivos dos clubes. No que diz respeito às alternativas propostas
pelos participantes para mitigar a produção de sujeitos “pés de obra”, os profissionais das IES-
EF destacaram: as disciplinas de futebol precisam tratar de temas como o preconceito, a
influência da mídia no esporte, o processo de seleção de atletas, outras alternativas de trabalho
no futebol, modelos de treinamentos/aulas adequados a faixas etárias, gênero e diferenças; os
estudantes-atletas devem treinar pela manhã e estudam à tarde. Já os profissionais dos clubes
de futebol apontaram: o treinador que trabalha nas categorias de base necessita ter experiência
para contribuir tanto na formação técnica como humana dos atletas; universidades e clubes de
futebol necessitam de maior aproximação na busca do compartilhamento de conhecimentos. Os
indicadores propostos pelo pesquisador são: trabalhar, nas universidades, nas escolas e nos
clubes, os movimentos de liberdade realizados por atletas e clubes com o objetivo de combater
os preconceitos e a falta de democracia no futebol e na sociedade, bem como evidenciar a
contribuição positiva das classes populares no desenvolvimento e aprimoramento do futebol
brasileiro; a escola, as IES, em específico o curso de EF, podem valorizar e ampliar a carga
horária da disciplina de futebol no seu currículo; as IES precisam selecionar profissionais
capacitados nesse desporto e proporcionar infraestrutura adequada à prática do futebol; os
clubes, a escola e a disciplina de futebol podem utilizar uma proposta de ensino-aprendizagem
e treinamento do futsal em harmonia com o futebol nas aulas/treinos práticas. Defendemos um
modelo epistêmico “outro” de ensino e conhecimento do futebol, na universidade e no clube,
que forme futuros profissionais de EF e estudantes-atletas dentro e fora das quatro linhas do
campo de jogo, criando condições para que possam, de forma crítica, experimentar modos
“outros” de exercitar e aprender, em um ato existencial que valorize o todo da existência
humana, o “sentipensar”.