Abstract:
A presente tese de doutorado em Educação aborda a escola intercultural e os
processos de subjetivação, a partir da socialização e de individuação, das pessoas
Mbya Guarani com base no mbya reko, analisando se os elementos culturais e
linguísticos formadores são mediados ou não pela escola situada dentro da
comunidade. O estudo ocorreu na aldeia Mbya Guarani Anhetenguá, situada no bairro
Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre, e teve por objetivo geral compreender como a
escola Anhetenguá contribui para a formação de seus alunos na perspectiva do mbya
reko (modo de ser Guarani) em um contexto de interculturalidade. Problematizando e
fazendo uma reflexão acerca da temática exposta, a questão que guiou essa
investigação foi assim definida: como a escola Anhetenguá, inserida na aldeia
Anhetenguá, contribui para a formação de seus alunos na perspectiva do mbya reko
em um contexto de interculturalidade? Para a análise deste tema, foram utilizadas as
obras de alguns autores, que se situam na fronteira entre educação, filosofia e
antropologia, como Bergamaschi (2005), Kusch (2007), Mead (1973), Honneth (2009)
e Casagrande (2014). A pesquisa realizada pode ser caracterizada como uma
pesquisa qualitativa, exploratória, de cunho etnográfico, com matriz epistemológica
pautada no interacionismo simbólico, baseada em observações com registros em
caderno de notas e em diário de campo, além de entrevistas gravadas com os
professores e as lideranças da aldeia Anhetenguá. A ênfase se deu na descrição
densa, proposta por Geertz (2017), com a intenção de captar, por meio da observação,
aquilo que está subentendido, algo que não se dá a ver facilmente, apreender os
significados e, após, interpretá-los. A análise e interpretação dos dados foi feita sob o
viés da hermenêutica cultural proposta por Geertz (2017). A tese deste estudo conclui
que o mbya reko ocorre fundamentalmente na escola verdadeira, baseada na
educação tradicional a partir das vivências na comunidade, no tempo e no ritmo
próprios de aprendizagem, acontecendo também de forma complementar e eventual
na escola intercultural. Ao longo desta investigação, pode-se observar como se dão
os processos de socialização e de individuação nas escolas verdadeira e intercultural,
constatando-se que ambas são importantes e necessárias, de forma que uma não
substitui a outra.