Abstract:
Como parte de um grupo de nações que compartilham uma mesma agenda, o Brasil,
desde a primeira década do século XXI, tem proposto políticas públicas para
assegurar um sistema educacional inclusivo. Na intersecção entre a Educação
Profissional e Tecnológica (EPT) e a Educação Especial (EE) tais políticas buscam
garantir o direito à educação em escolas comuns às pessoas com deficiência, com
Transtornos Globais do Desenvolvimento e com Altas Habilidades/Superdotação.
Inseridos no contexto da Educação Superior, Básica e Profissional, os Institutos
Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs) são especializados na oferta de
EPT, estão presentes em todos os estados brasileiros e no Distrito Federal e têm
recebido um número cada vez maior de estudantes público-alvo da EE. O objetivo
geral da pesquisa é analisar as políticas institucionais de Educação Especial dos IFs
e, para tanto, foi realizada uma pesquisa documental, com abordagem qualitativa. A
análise foi desenvolvida através da perspectiva hermenêutica, tendo como corpus 17
documentos (resoluções, instruções normativas e regulamentações) pautando-se por
quatro dimensões: aspectos constituintes, diretrizes para o ingresso, diretrizes para a
aprendizagem e diretrizes para a participação. Na análise dos aspectos constituintes,
evidencia-se a existência de políticas institucionais em diferentes territórios e IFs, que
foram majoritariamente propostas após a promulgação da lei de reserva de vagas.
Algumas políticas têm foco nos estudantes público-alvo da EE, outras em grupo mais
amplo e, na maioria, não estão previstas intersecções entre as diferentes
características (como deficiência, gênero, raça e renda). Destaca-se a referência a
diferentes modelos de deficiência (médico e biopsicossocial), além da dificuldade em
acessar as políticas institucionais e as demandas por acessibilidade, já que os
documentos não são plenamente acessíveis. No que diz respeito ao ingresso, há
garantia institucional de reserva de vagas nos processos seletivos e as políticas
diferenciam critérios para essa reserva, incluindo grupos não contemplados na
legislação brasileira. Sobre as diretrizes para a aprendizagem, não há regulamentação
acerca da participação dos estudantes na tomada de decisão quanto à escolha e
utilização de Tecnologia Assistiva (TA), sendo que poucos documentos preveem
orçamento para aquisição desses recursos. A análise identifica o compromisso com a
oferta de Atendimento Educacional Especializado (AEE) na própria instituição em sete
IFs, mas não há deliberações quanto às especificidades do processo. Além disso,
destaca-se a responsabilização de diferentes setores e atores quanto a realização do
serviço e os desafios frente à demanda por professores de AEE. Quanto à formação
de professores, é recorrente a orientação de qualificação de servidores através de
cursos, seminários e capacitações, mas há indefinição sobre o objetivo das ações:
melhorar as práticas profissionais desenvolvidas ou formar profissionais para assumir
outras demandas institucionais. Por fim, as regulamentações e fluxos de ações
preveem restrita ou nenhuma participação de estudantes público-alvo da EE,
representantes de movimentos sociais, familiares ou lideranças comunitárias nas
deliberações do processo pedagógico ou instâncias políticas. Os elementos
analisados, no escopo das políticas institucionais, buscam legitimar a tese de que os
IFs protagonizam um percurso contextual, histórico e em construção no que se refere
à inclusão de estudantes público-alvo da EE na EPT.